Oct 2, 2021 Meio Ambiente
Por Que Pranchas De Madeira?
Você já deve imaginar que não é nenhum segredo que o surfe tem alcançado um grande espaço no mundo dos esportes, e, pode ser praticado tanto profissionalmente, quanto por pura diversão e lazer.
Mas o surfe clássico, com as primeiras pranchas de madeira tem uma origem interessante, e com isso, é comum surgir uma pergunta que todo surfista já se questionou: por que pranchas de madeira?
Imagem de Bishop Museum
No Hawaii foi onde tudo começou, séculos antes da chegada de James Cook e sua tripulação inglesa na ilha. O surfe, mesmo naquele tempo, já fazia uma imensa parte da cultura e cotidiano dos hawaianos, podendo significar diversão, e, também, artifício de cerimônias importantes.
As pranchas comumente usadas naquela época eram, as alaias que podiam variar de 6 a 8 pés de altura, ou as pequenas paipo. Por outro lado, os surfistas da nobreza ou que detiam de poder hereditário, usavam longas e exclusivas pranchas de até 18 pés de comprimento denominadas olo, bem como surfavam em locais exclusivos também. Era possível um hawaiano plebeu sofrer de uma pena de morte, caso surfasse num dos locais sagrados da realeza.
Mas independentemente de sua classe, para todo hawaiano, antes de James Cook, sua prancha era sua maior preciosidade.
Imagem de Bishop Museum
No início do século XX, o famoso hawaiano Duke Kahanamoku, medalhista de ouro nas olimpíadas de natação, realizou algumas viagens, e, consequentemente, trouxe o surfe para as costas da América e da Austrália. Numa dessas visitas, inspirou o jovem americano Tom Blake, que ficou encantado com a cultura do Hawaii, e, assim que chegou em Waikiki, decidiu fazer réplicas de olos, para uso próprio. O primeiro exemplar, no entanto, media 16 pés de altura e 150 libras (68 kg), o que era muito pesado. Blake, então, para diminuir o peso da réplica, a encheu de furos e depois de um tempo, conectou o restante da madeira, sem querer, criando a primeira prancha de madeira oca, pesando agora, 100 libras (45 kg). Após essa tentativa, surgiram muitas outras — e até mesmo patenteou seu método — caracterizando então, a primeira produção em massa de pranchas, ainda de madeira.
Foto de Tom Blake Croul FamilyEntretanto, as pranchas ocas perderam o seu uso, e, com o passar dos anos, foram substituídas por leves pranchas de espuma derivada do petróleo, fazendo assim, com que o surfe realizado com a madeira fosse deixado de lado. Mas o seu significado permaneceu arquivado na história e cultura dos surfistas hawaianos.
Imagem de Tom Blake, Bishop Museum
Nos dias atuais, há uma retomada das pranchas ocas de madeira, mas agora com características modernas e versáteis, métodos de construção simplificados e promovendo a sustentabilidade, ou seja, uso de fontes renováveis para sua construção, sem prejudicar o nosso meio ambiente. Sem contar que estas foram adaptadas ao surfe moderno, possibilitando manobras progressivas devido ao rocker bem definido e a variedade de modelos, atendendo às necessidades de cada tipo de surfista ou estilo de surfe, desde um jeito mais clássico até o surfe mais radical.
Um detalhe muito interessante: os hawaianos faziam uma espécie de ritual divino antes de cortar a madeira a ser usada na construção de suas pranchas, o que reforça o fato de que para toda pessoa no Hawaii naquele contexto, sua prancha era seu mais precioso bem. E lá só existiam três tipos de árvores para fazer pranchas: a wiliwili, ulu, e a koa (acácia). Então, caso um nativo quisesse ter sorte e prosperidade, um rito era realizado: eles primeiro escolhiam cuidadosamente a árvore e realizavam uma oração, agradecendo pela madeira, oferecendo um peixe avermelhado como “pagamento” pela matéria-prima. Após cortar a árvore em tábuas, era parte do ritual o surfista fazer a sua própria prancha, com a finalidade de colocar a sua energia nela.
Árvore de Koa foto de Jeff HaweO nosso método de construção retoma essa cultura antiga, mas com modernidade e consciência ambiental reforçada. Desenvolvemos um método simplificado para qualquer pessoa aprendê-lo, sendo possível você mesmo construir, desde uma simples Mini Fish, até um Stand Up, tudo utilizando desse mesmo método de construção.
O principal (e o mais importante) diferencial das pranchas antigas feitas de madeira, para as feitas com o método David Weber, é o peso final. Uma olo oca pesava 45 kg sendo muito mais leve que as originais. Já um Longboard Kanaloa (o nome também sendo homenagem a um deus hawaiano) com 9’0 pés de altura pode pesar 7,5 kg.
Outra divergência muito importante do nosso método para o antigo, é a praticidade. O Shape de tamanho qualquer, graças a testes e estudos realizados, pode agora ser feito em qualquer lugar, sem muitas restrições, já que os materiais usados não são altamente poluentes para o meio ambiente e maléficos para a nossa saúde.
As pranchas ocas das quais estamos falando são uma combinação de tecnologia, sustentabilidade e arte. O projeto das nossas pranchas é desenvolvido meticulosamente no computador, e, o método serve tanto para construir shapes clássicos quanto modelos de alta performance.
Ao trabalhar a conexão entre você e sua prancha, também trabalhará num elo entre natureza, mente e surfe. Estamos falando de pranchas que são projetadas para uma vida inteira de ondas. E o mais importante, sem prejudicar o meio ambiente.
Bibliografia: Greg Noll - The Art Of The Surfboard, by Drew KampionTexto escrito e editado por Maria Fernanda Weber.