Dec 24, 2018 Re-posty
Florianópolis e arredores: Criando uma prancha de surfe na Praia Mole
À primeira vista, parece improvável que as tábuas de madeira enfileiradas no ateliê de David Weber possam ganhar a forma de uma prancha de surfe e terminarem na água deslizando pelas ondas. Mas essa é a mágica que o shaper ensina aos alunos no workshop de quatro dias que usa técnicas de construção naval para moldar uma prancha de madeira de alta performance. Não é necessário ser surfista nem ter qualquer habilidade especial para se aventurar no curso. Aliás, o trabalho é tão bonito que há quem use como objeto de decoração. “São pranchas totalmente sustentáveis porque nunca vão parar no lixo”, diz David. “Elas podem ser colocadas na parede de casa ou na parede das ondas.”
A energia do surfe que a ilha respira contagiou David assim que ele chegou à Florianópolis, doze anos atrás. O paraguaio, que vive no Brasil há mais de duas décadas, se aventurou no mar e logo resolveu construir sua própria prancha para praticar o esporte. Montou uma oficina em casa e experimentou confeccionar pranchas no estilo tradicional, polindo blocos de materiais como o poliuretano, mas percebeu que o processo fazia muita sujeira e barulho. Passou a pesquisar novos métodos de construção e descobriu a madeira. Não demorou para que largasse a carreira como engenheiro de telecomunicações para se tornar um shaper, um ofício em que a capital catarinense é referência pelo mundo.
O shaper David Weber no processo de construção | Fotos: Diego Lajst
“A primeira onda com uma prancha feita por você mesmo é uma experiência incrível”, conta David. “Você vê todo o seu trabalho funcionando.” Na última década ele construiu mais de 500 pranchas e, desde 2011, ensina as técnicas que passou a última década aperfeiçoando. O método consiste em transformar tábuas retas de paulownia japonesa, uma árvore de material bastante resistente, em mais de 20 modelos diferentes. Em volta de um esqueleto central, as tábuas são coladas e shapadas, como se chama o processo que dá forma e curva à prancha, à mão. Mesmo sendo de madeira, o método de construção deixa a prancha leve, característica essencial para um bom desempenho no mar.
Os grupos que são organizados quase mensalmente se reúnem durante 40 horas no Hotel Praia Mole, no leste da ilha, para construir um dos modelos. Orientados de perto por David, eles aprendem não só a usar as ferramentas, mas também conceitos de design, técnicas de colagem e colocam em prática o passo a passo do método de construção. Além das pranchas ocas de surfe, também é possível aprender nos workshops a construir remos, handplanes - a prancha usada para o bodysurf -, stand up paddle ou a alaia, que é uma estrutura de madeira maçica. “A técnica é difícil, mas todos os alunos conseguem sair com pranchas de alto nível”, garante.
Mas a verdade é que há uma certa magia em colocar a mão na massa. “Diz uma lenda havaiana que, ao construir a própria prancha. o surfista passa todas as energias positivas para ela”, diz David. “E a gente comprovou ao longo do tempo que isso é verdade.”